terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Boas Festas e Bons Livros!

Como, para escrever bem, é preciso ler bem e muito, os votos das nossas oficinas de escrita passam, obrigatoriamente, por desejar a toda a gente muita leitura. Que 2014 traga a todos e a todas as maiores alegrias e a descoberta sem preço do prazer sempre renovado de ler e... escrever!


http://verymerryvintagestyle.blogspot.pt/2012/12/how-to-make-christmas-tree-with-books.html
A árvore de natal que as oficinas subscrevem!


Créditos da imagem: http://verymerryvintagestyle.blogspot.pt/2012/12/how-to-make-christmas-tree-with-books.html

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A vida dele e delas já é um livro!!

Uma maravilhosa celebração. Com duas ausências de peso: o nosso querido José Saraiva, que está noutro continente na vizinhança dos trópicos, e a nossa querida Sónia Alves que está noutro país nas proximidades do Pólo Norte.
Foram recordados com todo o carinho. E estiveram assim connosco à distância, porque como dizia alguém 'não é preciso estar-se junto para ser-se perto'.
Quem terá sido?
Aqui ficam imagens da festa!! E da sala cheia!!!  
 















para ver o álbum completo no facebook : Oficinas de Escrita/A minha vida dá um livro

domingo, 15 de dezembro de 2013

A aventura de escrever

Começar a escrever é uma aventura tão extasiante como começar a andar. Mas traz pacotes adicionais que não estão contemplados nos nossos primeiros passos. O medo - de falhar. E o preconceito - o que é que os outros vão pensar de mim e do que eu escrevo? Se aliviássemos essa carga, ou melhor, quando a retiramos, casca a casca, porque é uma cebola intrincada, voltamos aos primeiros dias do resto das nossas vidas. Voltamos a ser crianças. E a saber, como elas, que brincar é a coisa mais séria que existe.

sábado, 14 de dezembro de 2013

«Querida Mãe»

A belíssima carta de A.R. a culminar  a nossa intensa oficina de escrita : Elegias do Amor e do Ódio.

De A.R., s/título, técnica mista..

Querida mãe:

Há cerca de três anos que não nos encontramos. Temos, pontualmente, uns breves contactos telefónicos em que nos limitamos a falar de banalidades. Mas nestes últimos tempos tenho reflectido bastante sobre a nossa relação ao longo da vida e decidi escrever-te esta carta.

Para surpresa minha, é a primeira vez que te chamo querida. Pode parecer-te um fingimento meu, mas já vais perceber que não o é, de forma alguma. Como muito bem sabes, o nosso relacionamento sempre foi conturbado. Tu não desejavas ter filhos e eu vim roubar-te a liberdade a que tanto aspiravas. Sofremos as duas, ao longo dos anos: tu, revoltada com a vida que te tinha proporcionado o “ empecilho” (como te referias a mim de forma recorrente). E eu, na minha solidão e perplexidade, fechada em casa a crescer sozinha.

Mas é aqui que está o ponto principal da minha reflexão. Esta vivência permitiu-me explorar o mundo à minha volta, de início dentro de casa e, posteriormente no exterior, quando aprendi a saltar a janela (sei que estou a revelar-te algo que nunca imaginaste!).

Assim, toda a fantasia que esta vida me proporcionou, e que eu desenvolvi no meu solitário processo de crescer, tornou-me uma pessoa destemida, com alguma capacidade para enfrentar as adversidades e, em simultâneo, a poder percepcionar o mundo à minha volta! Gosto de pensar que, se a minha vida tivesse sido mais facilitada, talvez tivesse crescido devidamente “normalizada”, muito passivamente inserida nesta sociedade tão adversa à diferença e à imaginação. Assim, sinto que sobrevivi guardando inteira a minha singularidade!

Por tudo isto, quero agradecer-te tudo o que, directa ou indirectamente, me proporcionaste.

Um beijo, profundamente sentido.

 A.R.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Alice, Narciso, a Bruxa e as viagens

Falámos de Alice, quando foi para o outro lado do espelho. De Narciso, assombrado perante a beleza do próprio reflexo, ignorando a ninfa apaixonada. Da bruxa má da Branca de Neve, obcecada com o pavor que outra beleza maior suplantasse a sua. Falámos de portais. De dimensões matemáticas. De viagens. De espelhos antigos de família, de espelhos novos, de espelhos de água, pequenos ou grandes, valiosos ou não, mas mágicos, todos eles. Falámos de histórias. Das nossas histórias com eles. Dos nossos próprios assombros quando começámos a descobri-los e a imaginar como seria do lado de lá.

«Alice olhando-se ao espelho»
por Malcom Ashman em 3 petites notes


E depois... começou-se a escrever e bem, que é como quem diz, com toda a gana. No próximo sábado dia 14 há mais, e na outra quinta-feira, dia 19, começa outro turno. Ainda há vagas para estas oficinas de escrita de ficção que prometem revelar talentos insuspeitos.  

sábado, 7 de dezembro de 2013

A vida deles já deu um livro

Um punhado de novos autores revelou-se ao longo das nossas últimas oficinas de escrita. Muito empenho, alegria e generosidade, algum sobressalto, um pouco de receio mas.. o trabalho sério e apaixonado de todos deu frutos. O livro A minha vida dá um livro. A capa e a introdução desta obra antológica são testemunho. O lançamento da obra, na presença de amigos e familiares vai ser anunciado nos próximos dias e irá decorrer nas instalações da livraria Alêtheia, à rua do Século. Muito a propósito, uma antiga padaria pois... nem só de pão vive o homem.

 
 
 
 

sábado, 30 de novembro de 2013

Universos paralelos ou viagem ao outro lado do espelho

Universos paralelos: um espelho; imaginação, toda; palavras: vossas. Eis a trilogia que vai ter de estar presente nas próximas Oficinas de escrita que desta vez priveligiam a ficção. Quem quer fazer uma viagem de ida e volta sabe-se lá onde e trazer na bagagen um presente todo feito de palavras vossas? A sirene do navio já soou. No próximo sábado dia 7, a bordo!


 
Universos Paralelos

Viagem ao outro lado do espelho
 
Um rosto ao espelho. Que rosto é este rosto? Do olhar para a descrição, palavra por palavra, do «eu» que me olha do outro lado. Que paisagem me rodeia? Uma parede, um muro, um jardim, uma praia? O espelho é um portal, podemos colocá-lo onde quisermos.
Em seguida, aproveitemos o momento precioso em que, entre as múltiplas dimensões, se abrem os corredores de passagem e avancemos para o outro lado. Ali, onde a aventura nos aguarda.
Quem vem ao meu encontro? Para onde me levam os meus passos? Que mensagem recebo? Que pessoas conheço ou reconheço, nesse mundo paralelo? Que sensações, que emoções, experimento? Que novos lugares se me oferecem aos sentidos? Quero ficar, quero voltar, quero fugir? De onde, de quem, para onde? Finalmente, que história me acompanha quando, de novo deste lado, pouso os olhos na folha de papel ou no ecrã do computador, onde a aventura ficará registada?
Ao longo de três módulos de duas aulas cada, vamos até onde a imaginação nos transportar.
O desenrolar da oficina passo a passo:
– Eu sou eu? Ou «Do outro lado do espelho».
– Para onde vou? Ou «Cruzando os portais do tempo e do espaço».
– Momento fundador da narrativa. Ou «Universos paralelos».

Por módulos:
1)     Eu sou eu…do outro lado do espelho? Onde se irão trabalhar os primeiros momentos de uma narrativa de ficção. Método: Olhando-nos ao espelho, imaginário, colocado onde a nossa imaginação determinar, descreve-se o que vemos, de um e do outro lado da imagem. Registando detalhes, estranhezas, correlações ou discrepâncias entre o que vemos de um e do outro lado.
2)      Para onde vou… cruzando os portais do tempo e do espaço. Onde se irão determinar os fundamentos da narrativa ficcional.  Método: Atravessámos o espelho. E agora, onde estamos? É igual, é diferente, é estranho? Estamos em plena aventura. A viagem é a nossa imaginação que a proporciona. Tal como os sonhos, somos nós quem os fabrica. Voar, é preciso.
3)    Universos paralelos, ou o que me aguarda do outro lado de mim? Onde se irá trabalhar a narrativa ficcional proporcionada por esta viagem. Método: Estruturação da história. Era uma vez. Naquele tempo, naquele espaço, o que me acontece? Que aventura vivi? Quem encontrei, reencontrei, conheci ou reconheci? De certa forma, trata-se de capturar por palavras nossas, uma migração do «eu» em seus devaneios e vivências.

Contactos:
email: manuela_gonzaga@yahoo.com ou https://www.facebook.com/pages/Oficinas-de-escrita/369065366502257
Livraria Alêtheia
Rua do Século, 13, 1200-433 Lisboa
(Estacionamento no silo da Calçada do Combro)
Telefone (+ 351) 210939748 * Email: aletheia@aletheia.pt
http://aletheiaeditores.blogspot.pt

Adicional: Ao longo do tempo em que durar a Oficina, os participantes podem colocar questões à orientadora, por email, ou pessoalmente. As anotações sobre a escrita, não tendo qualquer intuito «crítico» serão conduzidas no sentido de orientar a eficácia do discurso. Tanto quanto possível, essas considerações serão pessoais – de orientadora a orientando/a.



 

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Querida avó

A bela carta que Alice Maravilhas nos deixa como fecho de abóbada das suas Elegias do amor e do ódio. Tocante. MG
 
 
Querida avó
 
Escrevo esta carta como forma de me chegar a ti, estar perto e de mão dada a lembrar-me quanto foste importante.
Tenho percorrido momentos felizes que me estruturam no dia a dia porque sei que estás a ajudar-me a transmutar as raivas, e de nó na garganta solto-me, e volto a sentir os momentos passados, das minhas vestes de amor e ódio.
Querida avó hoje senti-me longe, alguém me deu a tristeza no coração e ele chorou. Deixei-me levar pela insegurança dos meus sentimentos, esbanjei o amor no medo e rezingona instaurei as palavras do ódio. Culpei-me e culpei as instruções da cabeça
Viro e reviro as pregas do espaço e do tempo e situo-me nos vários pontos cardeais, no amor e no ódio em que me consumo.
Avó apetece-me encostar a minha cabeça no teu peito e soletrar o que sinto, limpar-me ao som de música e vontades e acolho a tua mão na minha face sedenta.
Aperto-me num nó que demora a soltar-se, minha querida avó, corro para o véu que esconde a fragilidade do coração.
Levanto-me e é no amor que me encontro. Avó, explica-me como me encontro e como me posso entregar sem medo, sem o receio de ser, de me expor e despojar dos desencontros da alma, aqueles que me levam a sentir bem, livre do medo da rejeição. Entorno-me em desalinhos de pele desidratada pelo cansaço de ser, pela vida que esculpe o amor e quando dói, porque dói, então agarro a tua mão e o mundo fica cheio e volto a sentir que sou.
 
Avó ainda me sinto perdida no amor, na lentidão de calçar os sapatos sem medo de caminhar.
 
Alice Maravilhas, Lisboa, Novembro de 2013 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Histórias de uma menina que nasceu de pé

Mais um texto de AR, cheio de fogo e, paradoxalmente, de alegria. É sempre reconfortante confirmarmos como a infância é tão mágica e poderosa que sobrevive às bruxas, aos ogres, e a tantos monstros que se ocultam nos quartos escuros da memória. A ilustração, colagem sobre papel, é da autora. MG
 
Nunca conseguimos falar sobre o meu nascimento e o início da minha infância. Soube apenas que o nascimento de um filho já não era esperado, nem desejado. Soube também que a gravidez foi problemática e que, para agravar a situação, eu decidi vir ao mundo aos oito meses de gestação, situação que, para a época, era tida como de grande risco. Para além desta “precocidade”, nasci de pé e com uma incompatibilidade sanguínea, que implicou risco de vida, vários dias de internamento hospitalar, uma transfusão de sangue e a decisão da mãe de ter alta contra parecer médico.

Todos estes acontecimentos foram-me sempre relatados como algo de catastrófico, que impediram a minha mãe de ter uma vida livre. Para mim, porém, tamanha amargura era ininteligível.

Constantemente ouvia frases que me magoavam demais. A pior de todas era a de que eu tinha «sangue do Diabo», porque me fazia sentir como um ser impuro, desprezível, diferente das outras crianças. Pior, com esta frase, caía sobre mim a culpa de ter causado tanto sofrimento à minha própria mãe. Na verdade, ao longo da minha infância a nossa relação não melhorou. No plano material as necessidades foram supridas, mas afectivamente ia-se criando um fosso, no qual eu tentava a todo o custo sobreviver. Houve sempre uma incompatibilidade entre nós, muito mais profunda do que a do sangue.

O meu pai trabalhava demasiadamente, mas quando estava presente era tão apaziguador, tão bom ouvinte, que a sua presença iluminava e aquecia todos os momentos que passávamos juntos. Foi com ele que partilhei as questões relativas ao crescimento, à sexualidade, à vida. E mesmo na hora de morrer, as suas últimas palavras foram para me dar força, e para me pedir que cuidasse de mim!

E o que fazia uma criança de cinco anos sozinha em casa durante várias horas por dia? Descobria o seu Mundo, que supostamente estava limitado àquele apartamento, mas que tinha inúmeros lugares para explorar! Não eram os brinquedos que me entusiasmavam, mas sim os objectos dos adultos, com os quais eu construía as minhas histórias de encantar!

E, quando mais tarde pude descobrir o acesso à rua, através da janela que aprendi a abrir, foi o êxtase. Por fim, estava ao meu alcance o vasto e excitante território por explorar nas traseiras dos prédios, com novos amigos e novas brincadeiras, por vezes arriscadas, que me transportavam para um mundo paralelo, onde eu era feliz!


Colagem sobre papel, ilustração da autora

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Todos os sapatos servem

O texto, de uma grande intensidade poética, onde Alice Maravilhas traduz, palavra a palavra, imagens, sons, cheiros, emoções vindas do fundo da memória. MG.





 
I
Porque ando descalça a sentir o toque
Em toque toques, devagar para sentir o mundo
Pé ante pé, sem o mundo parar, giro em torno do dia-a-dia com canseiras. Descalça.
Todos os sapatos servem para conhecer o desconhecido que espreita nas minhas aventuras, no querer estar com o sentir
Os sapatos são os dias, uns são leves, ou com cor, ou apertam, ou escorregam. São os sapatos
Às vezes calço-me sem saber o que não interessa porque é preciso lá estar e vai-se caminhando com o desleixo do dia.
Às vezes calço-me e sei que o sol está, a luz brilha nos meus sapatos e sou vaidosa.
Também dançam em bicos de pé solto, e sinto-me voar.
Os meus sapatos também voam
 
II
Marcaste sim, desenhaste-me a vida com cheiros e histórias, rasgaste os dias em tons suaves, minha irmã.
Tiraste-me do desassossego dos dias que escureciam e deste-me formas da alegria.
Nos dias de solidão, frios dos maus tratos, tu com conversas desmontavas e resolvias.
Ouvindo as tuas histórias sem nexo construía uma realidade, a minha realidade, com a vida onde o desejo se soltava, onde o mundo era doce, onde todos sorriam e brincavam com liberdade
Depois lá vinham as zangas e os gritos. Ou se a raiva se instalava sem sentido, era mais físico. Então, tu chegavas, e nas tuas histórias e nos segredos se apaziguavam as raivas.
Hoje tudo ficou para trás e sem querer as recordações voltam, com outras formas, outras histórias de já sou mulher, com outras vidas.
 
III
Lembro-me dela na infância, talvez pelos meus quatro anos, na Beira Baixa, terras secas de frio e calor. Assim conheci a minha avó, não doce ou talvez escondesse essa doçura no olhar, mas uma verdadeira mulher que me acolhia com amor
Uma avó gorducha, de faces rosadas, andar lento de dignidade e força, braços abertos para o mundo onde todos se recolhiam. Assim construiu uma casa de emoções, na freguesia do concelho de Idanha-a-Nova numa aldeia de construção de granito e sombria. Uma casa com divisões escondidas por cortinas pesadas que abrigavam na sua textura o inverno e onde facilmente se perdia a solidão aquecida pelas braseiras espalhadas pelos quartos e salas. Uma casa com vida própria, onde as tarefas com prazer apaziguavam a solidão da distância dos meus pais e irmãos.
Imagens soltas: na Páscoa, as visitas do padre de casa em casa levando o cruxifixo que todos a beijavam; e os rebuçados atirados ao ar para que cada um apanhasse e depressa para mais ter.
Da escola primária onde a minha avó ensinava. Todos sentados no quintal da casa a aprender a ler, mesmo com os livros de pernas para o ar, desenhávamos as letras visualmente.
Da matança do porco. Eu, proibida de assistir ao ritual, ouvia os grunhidos e de longe sentia a agonia do animal.
Da Bica de Azeite, um pão achatado típico da Beira Baixa à base de azeite sem fermento. Os biscoitos em S também à base de azeite, elemento fundamental da agricultura da zona
Cresci … sentindo sempre a presença da minha avó em minha defesa, a acolher-me de forma diferente dos meus irmãos
Quando visito a aldeia, passo pela casa que outrora era enorme e num sentimento de rever todas as imagens ligadas à minha avó, vejo uma casa pequena que outrora fora enorme pelo amor .
Hoje percebo esta ligação de amor, avó e neta, numa memória importantíssima que me ajuda em momento menos fáceis. O meu nome, Alice, o mesmo da minha bisavó que faleceu cedo, ainda a minha avó era adolescente.
Recordo com prazer os dias da minha infância passados com a minha avó, quando, e de mão dada cantarolávamos as duas “A Mimi é da vovó e a vovó é da Mimi”, e num sorriso trocávamos beijinhos ainda hoje sinto marcados na minha pele
 
Hoje calço outros sapatos e lembro-me que existem pessoas no nosso lado melhor da vida.
 
 
 
Alice Maravilhas, Lisboa, Outubro, Novembro de 2013

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Menina pisando a linha

O belo texto de AR, que foi escrito ao longo destas Elegias do Amor e do Ódio. Um mergulho de alma e coração no coração de uma menina. Comovente e delicioso. MG


Menina pisando a linha, pintura de autor do texto


Quando nos conhecemos, tinhas trinta e cinco anos. Eras uma mulher bonita, de estatura média, magra, de cabelos pretos, olhos castanhos e uns lábios finos e bem desenhados. Vestias de forma impecável, embora com alguma rigidez, sempre de fato, saia e casaco, de tons escuros e blusas ou camisolas claras. E, quando ias à rua, o cabelo apresentava-se imaculadamente penteado, sem um único fio desalinhado!

Eras uma mulher austera, rígida, criando uma distância abissal entre ti e os outros, fossem os outros os vizinhos, ou a própria família. Não te conheci amigos.

Quando eu era muito pequena, não sabia onde trabalhavas. Só sabia que saías de casa, logo após o pai, regressando à hora do almoço. Por vezes, voltavas a sair à tarde. E eu ficava sozinha. Anos depois, sei que trabalhaste algumas horas com o pai. Eras, ou tornaste-te a pessoa solitária que recordo, que apreciava vangloriar-se de fazer tudo na perfeição, mas a quem, dificilmente, alguém via sorrir?! Raramente concordavas com as opiniões dos outros. E a minha então, não contava de todo. De cada vez que emitia uma opinião, dizias:

– Vais ter de comer muitas colheres de sal para pensares como um adulto.

E claro que eu cumpria na perfeição o conselho, pois, quando estava sozinha, e deixaste-me sozinha desde muito, muito pequena, uma das minhas ocupações era comer sal às colheres, para me poder tornar adulta mais depressa!

O pai, sete anos mais velho do que tu, era um homem alto, de cabelo grisalho, olhos castanho-esverdeados, afável e sempre disponível para ajudar. No entanto, trabalhava excessivamente, era empregado de escritório  numa grande firma de têxteis, pelo que, saía pelas 8h e só chegava à hora de jantar, que era impreterivelmente às 20h.

Vivíamos numa cave num bairro de Lisboa. Era uma casa pequena, com pouca luz. O meu quarto e a sala não tinham janelas. A cozinha era grande, sendo uma das minhas divisões preferidas, quer pela quantidade de utensílios que eu podia explorar, quer pela janela, que se tornou na minha porta para o Mundo exterior, quando aprendi a abri-la!

Havia um quintal em que os muros que o delimitavam continham floreiras, que serviam de esconderijos para os índios e os cowboys, nas brincadeiras com os meus amigos. E un pátio enorme, onde corria, andava de bicicleta ou de carrinho de rolamentos. Também fazia corridas de caricas na berma do passeio, subia e descia candeeiros de iluminação pública, alheia a qualquer perigo que pudesse correr, tornando-me destemida.

Mas esta diversão tinha de ser controlada, pois tinha de terminar antes de regressares a casa. Então, voltava a entrar pela janela, fechava-a e afivelava a minha máscara de menina bem comportada! A menina que, numa docilidade aparente, suportava o tempo infindável que passavas a fazer-me canudos, obrigando-me a ficar sentada num banco, na cozinha!
 
Desde muito cedo que me obrigaste a arrumar o meu quarto, mas o que poderia parecer um castigo, para mim constituiu uma vitória, pois pude dominar naquele pequenino espaço, onde só cabia a cama, uma mesa-de-cabeceira e uma estante. Tudo se passava debaixo da cama; era um óptimo esconderijo para tudo o que era proibido. Os brinquedos estragados, os bichos de seda, o hamster que esteve lá uma semana, emprestado por uma colega e, mais tarde, as caixas de ovos que coleccionei e que depois forrei com papel celofane e colei no tecto do meu quarto, deixando-te furiosa.
 
Era assim.

domingo, 3 de novembro de 2013

Que carta tão difícil de escrever

«Girl reading a Letter at an Open Window» (1657)
do pintor holandês Johannes Vermeer
Que carta tão difícil de escrever. Ou, que carta tão importante para mandar? Palavras de amor? Ou de ódio? Mistura de ambos os sentimentos, conflito de emoções, caleidoscópio de memórias e perplexidades, luzes, sombras, risos e lágrimas?

Foi tudo há tanto tempo, e parece que acabou de acontecer.

Tenho de dizer isto. Tenho de escrever isto. Se não esqueço-me. Ou então, nunca mais me esqueço. Tenho de largar este peso, soltar esta amarra, libertar o meu barco parado no cais do tempo.

Há uma criança à espera de mim. Essa criança sou eu.

Elegias do amor e do ódio em plena floração...



 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

O fantasma de Laika

Há uns tempos um artista plástico resolveu usar o meu rosto numa das suas composições. Fê-lo em segredo e depois enviou-me a fotografia do quadro
- Reconheces? – perguntou.
Fiquei perplexa, não tanto por ver o meu rosto naquela obra sua, mas pelo significado que ela me transmitia. «Como pode ele saber?» pensei. No meio daquela composição e talvez imperceptível a muita gente, eu não conseguia tirar os olhos de um olho que me fitava. Ei-lo! Só me aparecia em sonhos, ou melhor, em pesadelos, mas agora estava ali, acusatório e perdido. Aquele olhar que me perseguia desde sempre e fazia tão parte do meu ser que já não imaginava a minha vida sem ele.

Não sei bem como veio ali parar, possivelmente alguém a abandonou, ou então, perdeu-se de casa. Rondava a rua para baixo e para cima, e dormia à entrada das portas dos prédios. Era preta e branca, ou branca e preta, pois tinha umas manchas pretas que lhe adornavam o corpo. Tinha também os olhos mais meigos que alguma vez me tinham olhado. Um dia fiz-lhe uma festa, e aquele ser aninhou se aos meus pés de criança. Já não devia ser muito nova mas também duvido que fosse muito velha, devia portanto estar na meia-idade dos cães. Segundo a minha avó, notava-se que tinha sido mãe, o peito saliente e descaído era sinal disso mesmo, e, pobrezinha, estava sozinha.
– Oh pudemos ficar com ela? Perguntei eu ansiosa.-
– Não! – responderam me. – Está fora de questão, vamos mudar de casa e os novos senhorios não querem animais.
Não ficaram com ela, mas baptizaram-na de Laika.
– Laika! – chamava o meu pai quando a noite saia.

Alimentava-a e depois ela seguia-o até ao café. Ficava cá fora, à espera, enquanto ele lia o jornal e depois seguia-o até casa. Ele subia a escada e ela ficava em baixo aninhada, a dormir. Ele achava-lhe piada creio. Dizia:
– Parece uma pessoa, de tão esperta!
Mas nada fez para lhe procurar dono, ou pelo menos foi essa a ideia com que fiquei.
Estávamos de mudança. Eu, da varanda de um segundo andar, observava os homens que faziam todo aquele ritual de ir e vir carregando caixas e móveis. Carregavam as nossas coisas para a carrinha que me parecia enorme e estava estacionada à porta de casa. Não me apetecia nada mudar de casa e de cidade, mas lá teria de ser. Laika também observava.
Já era noite quando entramos todos no carro. E o animal também queria vir.
– Oh não! Ela vai correr atrás do carro – disse o meu pai.
Então, Laika entrou e aninhou-se aos meus pés, no banco de trás.
– Por que a deixas-te entrar se não a vamos levar? – perguntou a mãe.

Eu devia de ter uns cinco anos, pois sei que foi com essa idade que mudamos daquela casa, e o meu coração batia muito forte de nervosismo e antecipação, como se houvesse uma luz de esperança que Laika ficasse connosco. Não me lembro o que o meu pai respondeu, só me recordo que uns metros a frente o carro parou e ele convidou-a a sair.
– Porquê, papá? Onde é que ela vai?
– Está ali um amigo meu que vai ficar com ela. Nós não pudemos, ela é muito querida e tal e eu também queria muito... mas a vida... ahh a vida nem sempre é como queremos, tu não entendes ainda, mas um dia vais entender.
Laika saiu então do carro e eu olhei em redor aflita.
– Mas eu não estou a ver ninguém a chamá-la, as pessoas passam e ninguém a chama! Papá! Oh não! Laika! Laika! – e desatei a chorar!
O carro começou a andar e Laika ficou para traz.
– Sónia, não chores, assim como eu gostei dela alguém mais irá gostar, esta cadela parece uma pessoa de tão esperta... mas nós... nós não podemos ficar com ela.
Laika ficou para trás, os seus olhos meigos e perdidos olhando o carro. Eu olhava-a a chorar enquanto o carro se afastava. Sentia-me mal, muito mal. Como podia eu admitir uma coisa daquelas?

 


– Chama se Laika em memória da primeira cadela que foi à Lua! – explicou-me.
– Foi à Lua papá? Sozinha? Deixaram a cadelinha sozinha ir à lua?
– Deixaram claro, em nome da ciência! Era a primeira vez, não podiam ainda enviar um homem ou uma mulher, pois não havia garantias que regressassem a Terra!
– E a Laika voltou? – perguntei ansiosa.
Fez-se um silêncio, como se ele estivesse talvez a ponderar se havia ou não de poupar a criança àquela verdade.
– Não! – respondeu o meu pai. – A Laika ficou em órbitra no espaço, nunca mais voltou!
Tal e qual a da minha infância. Que nome tão maldito fora escolhido para o animal. Eu ansiava que alguém mais tarde lhe tivesse dado outro nome que não Laika, algum com melhor presságio. Ainda hoje, quando conheço um animal com esse nome sinto um misto de arrepio e ternura, mas na verdade esta recordação perdeu-se e só há uns quatro anos irrompeu pelas brumas, qual D Sebastião numa eternidade de nevoeiro que um dia reaparece, trazendo as Laikas da minha infância à deriva no espaço da minha memória

Sónia Alves, Estocolmo, Setembro/Outubro 2013


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Message in a bottle? Melhor ainda!

Se tivessem um correio para o passado, uma espécie de DHL custo zero, a quem enviariam a vossa carta? A quem escreveriam as palavras 'que sempre te quis dizer'?

Se pudessem mandar uma mensagem numa garrafa, atirando-a para o oceano do tempo, sabendo de antemão que ela seria entregue, incólume e poderosa, ao seu, à sua, destinatários?

Pensem nisso.

É por estes caminhos que caminha o novo curso das nossas oficinas.

 

domingo, 20 de outubro de 2013

O prazer de escrever

Começar a escrever, a escrever pelo prazer da escrita, é uma aventura tão extasiante como começar a andar, uma alegria cuja memória perdemos. Mas esse exercício tem contrapesos e bem pesados!, que não estão contemplados na atividade que rodeia os nossos primeiros passos. O medo - de falhar. E o preconceito - o que é que os outros vão pensar de mim e do que eu escrevo?

Se aliviássemos essa carga, ou melhor, quando a retiramos, fio a fio, casca a casca, voltamos ao esplendor dos primeiros dias do resto das nossas vidas. Voltamos a ser crianças. E a saber, como elas, que brincar é a coisa mais séria que existe.

sábado, 19 de outubro de 2013

Meu inimigo, minha sombra, minha luz e meu amor.

As «Elegias do amor e do ódio» vão arrancar daqui a poucas horas - o segundo grupo. Os exercícios propostos nesta oficina continuam a ser vivenciais e muito profundos. Basicamente, trata-se de procurar e escolher uma pessoa, especificamente uma pessoa, que nos marcou. Pode ter sido 'alguém que passou por cá e deixou ao deus-dará os olhos presos nos meus', como na letra do fado. Pode ter sido alguém que nos impressionou pelos melhores ou piores motivos. Pode ser alguém sobre o qual se queira efabular um registo literário, mas que, em boa verdade, só exista na nossa imaginação.

Em todo o caso, vamos chamar uma pessoa. E essa evocação provocará um recrudescimento de memórias. E por fim, dessas memórias trabalhadas pela palavra viva, vai emergir uma carta. Uma carta que funcionará como um acerto de contas com o passado, real ou imaginário. É igual, vai dar ao mesmo. Tudo somos nós:

Destacamos, do primeiro módulo, o respectivo briefing: «Ao longo da vida há muitas pessoas que nos marcam. Aqui costumamos acrescentar a frase que é uma espécie de dogma: 'para o melhor e para o pior'. Este aforismo, porém, é desprovido de sentido. Todos os que nos ensinam, e portanto todos os que nos fazem crescer, com ou sem dor, surgem na nossa vida por algum motivo, um motivo muito forte. Fomos nós que os/as chamámos.
Neste módulo vamos invocar, descobrir, desentocar, alguém muito particular, e trazê-lo à luz do momento presente. Vamos recordá-lo com todos os detalhes. Vamos chamá-lo pelo nome.»

Mesmo sem fazer parte das nossas Oficinas, porque não tentar escrever também esta carta, seguindo os passos aqui muito sucintamente explanados? Façam-nos e deixem-nos saber como foi,

Estamos, estou, muito interessada. Como pessoa e por pessoas.


 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Chamo-me Clara mas queria ter sido Teresa

O 'Bilhete de identidade' da Clara, num registo encantador. Continuamos assim a publicar textos da anterior oficina, e a preparar o livro antológico dos participantes.
 

Nasci no dia 24 de abril há muitos anos atrás, no seio de uma família que sempre acreditei não ser a minha. Chamo-me Clara, mas sempre achei que o meu nome deveria ser Teresa, motivo pelo qual, nas minhas brincadeiras de faz de conta com as minhas amiguinhas, as obrigava a chamarem-me como tal. Sou a mais nova de três irmãos e sou a única rapariga. Os meus pais, pessoas maravilhosas, nunca foram dados a grandes manifestações de afectos. O seu amor por nós, de que não tenho dúvidas, era assim ocultado por uma teia de gestos convencionais e muita secura.  

O meu irmão mais velho era um rapaz muito acertadinho, excelente aluno, sempre no quadro de honra, o que fazia o meu pai, professor catedrático de agronomia, exultar de orgulho. Cresceu assim, sempre muito estudioso, tímido e bem comportado. O meu outro irmão, também era muito bem comportado, e, apesar de não ser tão dotado para os estudos como o meu irmão mais velho, teve o mérito de se esforçar homericamente para estar à altura dos elogios do meu pai. Nunca gostou de ficar em segundo lugar e fazia de tudo para poder sobressair.

Tínhamos uma relação muito cúmplice, devido à proximidade de idades, (14 meses de diferença), mas a realidade é que eu era de facto o rapaz da casa e queria sempre mandar nos meus irmãos, principalmente neste. E como sentia um enorme desgosto por não ter uma irmã, cheguei a obrigá-lo a vestir as minhas roupas para o fazer passar por menina. É óbvio que só o consegui fazer enquanto éramos muito pequenos. Depois ele começou a insurgir-se violentamente contra as minhas tentativas, recusando vestidos, folhos, e outros adornos indignos do rapazinho que ele era, pelo que a partir de certa altura já não consegui mais transformá-lo na irmã com que tanto sonhava.

Mas apesar da nossa cumplicidade, ele irritava-me pois era muito mariquinhas e queixinhas. Nunca queria alinhar comigo nas propostas de fazer malandrices e chegava mesmo a ir ter com os pais, para denunciar os meus planos, ficando eu de castigo vezes sem fim. É que, e ao contrário dos meus irmãos, eu não era nenhum exemplo de filha, nem sequer uma brilhante como aluna, poi fui sempre mediana, recusando-me a ceder um segundo que fosse do meu tempo de brincadeira para o estudo. Nunca chumbei nenhum ano, mas as minhas notas raramente subiam acima de um 15. Normalmente andavam entre o 12 e o 13, para grande desgosto do meu pai.

Nesta matéria, a minha mãe era mais benevolente. Mas quando o tema era religião e quando o assunto era o catecismo, aí é que eram elas!!!! A sua benevolência desaparecia e dava lugar a uma severa vigilante da fé, cheia de tabus, onde por exemplo, falar de pernas, só por motivos de doença, e grave!!!

Sentia, naquela família, que todos me eram estranhos e não eram raras as vezes em que imaginava que a minha verdadeira família iria entrar porta dentro a reclamar-me como a filha extraviada. Isso nunca veio a acontecer e o sentimento de desadequação foi uma constante no meu percurso. É sempre difícil crescermos e movermo-nos numa realidade com a qual não nos identificamos e foi isso que me aconteceu... Tinha de seguir regras e padrões de comportamento que nada tinham a ver com a minha verdade. Vivia espartilhada por uma educação que não me fazia qualquer sentido. Os valores morais e sociais sobrepunham-se aos afectos e isso era algo que não conseguia compreender. Tive de aceitar, mas fui crescendo coxa, com um sentimento de que um dia mais tarde iria encontrar o meu verdadeiro lugar no mundo.  Como não podia fazer nada par mudar esta realidade, refugiava-me no meu próprio mundo paralelo, onde era eu que ditava as regras e podia ser quem eu de facto me sentia.


 
Os jardins onde vivemos

Os jardins tiveram um papel fundamental neste meu mundo. Em casa dos meu pais tinha um jardim relativamente pequeno, onde existia uma zona de horta e outra de jardim, mas onde eu arranjava recantos que representavam estradas, casas, lugares, espaços à minha escala. Havia uma garagem, separada da casa, onde eu trepava ao telhado, proeza homérica para uma criança de cinco, seis anos, pois sentia-me no topo do mundo, tendo desafiado o medo de cair dali abaixo. Isso dava-me poder!

Adorava fazer  papas com lama e flores, (as queridas flores dos meus pais, ambos agrónomos), o que me custou vários dias de castigo fechada à chave no meu quarto.  Mas nem assim deixei de fazer as papas com as flores dos meus pais. Em vez de arranjar alternativa para as papas, arranjei alternativa para sair do castigo; ou seja, do quarto. Não teria mais que quatro ou cinco anos, mas resolvi arriscar e descer pela janela abaixo, apoiando-me num alpendre que ficava logo em baixo da minha janela e aí então já podia de novo viver a minha liberdade. Claro que logo que era descoberta, voltava para o quarto, mas entretanto fugir passou a ser uma rotina… O importante é que eu conseguia impor a minha vontade.

Outro jardim muito importante para mim foi o jardim de casa dos meus avós em Braga. É um jardim francês muito grande, cheio de canteiros de bucho e flores. Como eu era muito pequena, os canteiros representavam para mim caminhos, recantos mágicos onde e aí, sim, eu sentia-me protegida. Aquele era o meu mundo, onde existiam fadas e gnomos e todo um imaginário que me deleitava. Ainda hoje recordo os cheiros intensos desse jardim onde, profunda e intensamente podia expressar a minha liberdade e soltar a minha imaginação porque aquele mundo era só meu! Esta sensação era tão poderosa que, desde que me lembro de ser gente, os meus desenhos reproduziam invariavelmente fadas e casas em forma de cogumelos como as dos gnomos.

Um dia, quando descobri a maravilhosa aventura dos livros, a par dos tradicionais conto de encantar, devorava avidamente os Tio Patinhas, onde as histórias que mais me fascinavam eram as da Madame Min e da Maga Patalógica. Tudo em mim me encaminhava para o mundo das fadas e das florestas nem que fosse pelo trilho das «histórias de quadradinhos».

Até a realidade mais banal me remetia para esse mundo.

Clara Ferrão, Lisboa, Outubro de 2013

[créditos da imagem: http://juliedillon.deviantart.com/art/Forest-City-38174791