Na recolha de textos e sua revisão final para o próximo livro das Oficinas de Escrita, tenho voltado a deliciar-me com os trabalhos das e dos alunos. Aqui fica um extrato do excelente conto de Ana Moita dos Santos. MG
Alma Gémea
«[...] É impressionante o que um simples penteado pode fazer por uma mulher!
Parece futilidade mas não é. Estou a passar por uma separação e um simples
gesto de atenção comigo significa muito, neste momento.
Separei-me do meu marido de quinze anos, por vontade e iniciativa própria.
Foi um alívio, na altura. Discussões, falta de amor, de respeito, tudo o que
meu querido espelho testemunhou em silêncio.
«Desatei a namorar. Imaginem que me encantei por um antigo namorado de
juventude, que não via há séculos… e, embriagada de paixão, entrei a fundo no
“paraíso”! Divertimento, saídas à noite, viagens, enfim, tudo o que já há
muitos anos não fazia.
Tirei a barriguinha de misérias, lá isso tirei. Mas o pior veio depois. É
que, enquanto estive no “paraíso”, deixei os meus dois filhos com o pai. Quando
regressei à Terra, eles não queriam nada com a mãe, só queriam o pai.
Tem sido muito doloroso viver na Terra sem eles.
[...] »
Ana Moita dos Santos