A Ana, ou a Maria Ana, passou rapidamente a «Anita» durante as oficinas. Mas a sua esplêndida juventude não lhe retira um átimo à força das suas narrativas. Foi lindo ver como os seus textos cresciam, encantando-nos pela intensidade, emoção e frescura. Aqui fica uma amostra. MG
A graça de ser Maria
A graça de ser Maria
O
meu pai conta em jeito de brincadeira que sou tão teimosa que troquei as voltas
a toda a gente. Diz que fez as contas de forma a eu nascer no seu dia de
aniversário e queria muito que fosse um «Zé». Eu não fiz a vontade a ninguém,
nascendo Maria e quinze dias antes, sendo a rainha da teimosia desde que fui
gerada.
A
escolha do meu nome não foi um processo linear. À medida que a gravidez ia
avançado, as incertezas não davam lugar às decisões e não havia maneira de ter
um nome. Primeiro pensaram em Ana Luísa, nome com tradição familiar, mas depois
diziam que fazia lembrar a tia chata e que não podia ser. Depois Anísabel, um
rasgo de criatividade dos meus pais que agradeço por não ter sido levado
avante. Joana também foi opção, mas a semelhança com o nome do meu irmão eram
demasiado evidente e não queriam que carregasse esse peso.
Mas
no meio de tantas dúvidas, o meu nome foi escolhido da forma mais engraçada que
poderia haver. Após terminar a escritura de uma sociedade, a minha mãe e a sua
sócia caminhavam lado a lado e esta pergunta-lhe:
― Já têm nome para a bebé?
― Não… ― disse a minha mãe, revelando que
a escolha não estava a ser fácil.
― Gostava muito de ser a madrinha.
A minha mãe sorriu e disse:
― Mas eu não vou batizar a menina. O pai
quer muito que esta possa escolher a sua orientação religiosa quando for mais
crescida.
―Não faz mal, serei uma madrinha de
Registo – respondeu a sócia, continuando – Maria Ana é um nome lindo, não acha?
Com
20 anos pergunto-me: imaginar-me-ia com outro nome? De todo! Adoro-o e acho que
nenhum seria tão perfeito para mim. Dá-me o privilégio de me adaptar às
circunstâncias. Como costumo dizer, tenho quatro nomes: Maria para a maioria
das pessoas que me conhecem; Ana para quando a minha mãe me chama à atenção;
Maria Ana para situações mais formais e nome sonante numa vida profissional e
por último mas não menos importante Anita, diminutivo criado pelo meu pai
quando ainda era muito pequena, pelas semelhanças com a menina das histórias.
O
nome é aquilo que nos distingue e nos caracteriza. Maria Ana não é um nome muito
comum e isso faz-me gostar dele. Sempre o associei às princesas e rainhas,
lembrando-me da Maria Ana da Áustria, casada com D. João V, Rei de Portugal. A
minha mãe reforça a ideia que o nome me encaixa na perfeição porque sou um
«narizinho empinado» que nasceu para dar ordens e não para obedecer!
Muita
gente me pergunta: porque não Mariana ou Ana Maria? Não era mais fácil de
lembrar ou pronunciar? Possivelmente até seria. Mas a graça das coisas da vida
está na irreverência, na ausência de comparação e na singularidade e é sempre
tão bom quando achamos que nosso nome tem graça.