Do excelente conto de Ana de Sienna, mais um extracto - enquanto aguardamos pelo livro antológico onde o texto constará na integra. MG
[...]
[...]
Claro que vou ficar neste mundo
eternamente. Se isto for um sonho, por favor, não me acordem! E quando chegará
até mim esse alguém, meu cantor?
― Quando for a hora ― é a resposta.
Espero com muita calma e, enquanto
espero, vejo uma figura envolta em neblina a andar na minha direcção. Caminha
decidida e eu sinto que é importante o que tem para me dizer. Quando chega
junto de mim, vejo que é um homem. Beija-me ao de leve nos lábios, sem uma
palavra. Instintivamente, retribuo o beijo e percebo que o conheço há muito
tempo. Há tanto tempo, que nem sei precisar quanto. Vários anos, talvez até séculos
ou milénios… Que sensação tão maravilhosa e, ao mesmo tempo, tão estranha. É um
reencontro? Já nos conhecíamos e só agora nos voltamos a encontrar? Tudo nele
me é familiar: os lábios, o beijo, o cheiro, o toque, o que vejo no fundo dos
seus olhos claros. O prazer do seu toque é imenso, o seu olhar é reconfortante…
Tudo e nada me diz que é com ele que a felicidade pode chegar. Que vale a pena
tentar. Não sinto medo, não sinto hesitação, sinto vontade de arriscar.
E ele diz-me:
― Sou a tua alma gémea. Tenho-te
visto sofrer e, finalmente, venho ao teu encontro. Confia em mim. Não te vou
deixar. Quero ficar contigo para sempre.
Dou por mim a pensar: Isto só pode
ser um folhetim ou uma novela daquelas bem pimba… Acorda e regressa à realidade.
Tento abrir os olhos, belisco-me, mas nada acontece. Tudo se mantém igual.
Entretanto, ele já me envolveu nos
seus braços e acaricia-me de uma forma nunca antes sentida, enfim, um
descalabro! Rendo-me ou resisto? Se resistir, não me vou arrepender para o
resto da vida? Mas será isto realmente a minha vida ou trata-se apenas um
sonho, um delírio dos quarenta, uma maluqueira repentina, eu sei lá!?
Olho-me novamente no espelho e falo
com ele: «espelho meu, diz-me se há alguém com mais sorte que eu?»
Sem comentários:
Enviar um comentário