O primeiro texto que me foi entregue - na sequência de uma nova Oficina de Escrita, justamente intitulada Liberdade Incondicional (lema da minha candidatura às Presidenciais 2016), é assinado por Frederico Cotta. É um conto muito belo, que vos convido a ler com muita atenção. Merece.
Manuela Gonzaga
Manuela Gonzaga
Anã branca, reconstituição gráfica crédito: Casey Reed/NASA |
Acordo e não sei onde estou. Olho à minha volta e nada reconheço. Que faço aqui?
Numa das paredes
há um espelho. Levanto-me, e lentamente aproximo-me. Mas não me
conheço a imagem refletida. Afinal, quem sou? Há quanto tempo estou aqui?
Escrevo. Passo o tempo entre papel e caneta. E a
espreitar o céu por um minúsculo quadrado gradeado
que me permite ver o mundo lá fora e me faz sonhar com a liberdade dos pássaros, que passam diante de mim, a voar. O meu
melhor amigo é a solidão, sendo ao mesmo tempo o meu maior inimigo. A solidão enche o meu
espírito de liberdade, pois estando só, aqui, nada desejo, de nada preciso. Mas ao mesmo tempo, e reconheço a minha contradição!, a falta de contato
com a natureza, os animais e outros humanos como eu, deixa-me vazio e
desoladamente só. Tão só que temo por perder o que me resta, a minha sanidade,
a minha humanidade.
A imaginação, porém, é a minha grande aliada. Leva-me aos confins do universo.
Permite-me observar estrelas nascerem e morrerem. Contemplo a explosão de energia e matéria, os seus elementos a espalharem-se pelo tecido do espaço e do tempo.
Pelo universo.
A mesma matéria
de que são feitas as estrelas, é a que compõe
o meu corpo. Os mesmos elementos que me permitem existir
e pensar, estão presentes nestas quatro paredes que me confinam. São os tijolos do
próprio universo. A matéria-prima de astros e galáxias. Sinto-me minúsculo, igual em composição a todos
os seres
com quem
partilho esta existência. E se sou igual, não posso ser superior, a humanos
ou não humanos. Porém, esta mesma imaginação é minha
inimiga, reduzindo-me, aliciando-me, dando-me vontades e, pior
ainda, anseios e desejos.
É neste
momento que o meu espírito se deixa, novamente, prender! O desejo
torna-se a minha prisão, aprisionando-me a esta realidade, com correntes
tão pesadas que até
conseguem amarrar o meu espírito.
Olho de novo ao espelho. Uma vez mais, não
reconheço a imagem que vejo, mas
agora, deixo que o papel e a caneta me definam e desenhem de modo a que me
possa reconhecer. E, por fim, consigo ver refletido na
superfície espelhada um brilho que reconheço.
Aquele
brilho nos olhos, eu conheço. É a luz da liberdade.
Frederico
Cotta
Porto, 14 Novembro, 2014
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