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Gustav Klimt (1862-1918), Le Baiser |
Não consigo! Não consigo
escrever! Dizes para “sentir” que “as coisas acabam por fluir”. E o pensamento voa de
imediato para o sentir. Só que é para o sentir dos teus beijos na minha cara,
nos meus ombros, no meu pescoço, nos meus lábios, nas voltas das nossas línguas.
Tento, juro que tento. Mas por
mais que o faça, é para lá que volto sempre. Para o teu olhar. O teu olhar em
mim. Esse olhar que me percorre o corpo todo e que me penetra a alma. Esse
olhar, presente e inabalável, que espelha, seguro, este amor antigo, que
te enraíza e te eleva. E volto para os teus lábios que sussurram, naquele
murmúrio cantado que nos embala nesta nossa viagem. As mãos entrelaçam-se e os
corpos estremecem.
Não consigo escrever. Só lembrar!
E as imagens sucedem-se e a perplexidade
e o maravilhamento vão tomando conta de mim... Como é que o fogo
pode ser brando e refrescante; como é que a candura pode ser tão pujante e
viril; como é que a intensidade pode ser leve e o mantra incandescente? Como
pode um peito tão cheio e arrebatado, deixar um sorriso indizível escapar dos teus lábios e fixar-se no teu olhar? Como podem as tuas
mãos, tão ágeis e vorazes, tecerem este manto de seda que me envolve a pele e de
que os teus dedos são hábeis artesãos? Como pode o ferro ser veludo? Como pode
o Céu estar na Terra e a Terra toda em mim?
Meu amor! Serena essa alma ávida
e aflita. Porque o meu corpo reclama a tua boca e a minha alma aspira ao nó que
nos une e se vai entrelaçando nesta valsa lenta mas eterna.
E não consigo, não consigo
escrever.
Eugénia Sales, Lisboa, Fevereiro 2014
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